sábado, 8 de março de 2008

Benditas

Tati, Lella, Carol... as três mosquetreiras, três pinguins padres... formatura chegando! Benditas.....


Composição: Mart'nália / Zélia Duncan

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas
A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, nãomente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

quarta-feira, 5 de março de 2008

Soma do infinito




"Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem já viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver." (Clarice Lispector)

* a soma do dia: clarice + frida = infinito x 10³

segunda-feira, 3 de março de 2008

Diz que fui por ai...

Estava pensando na nossa condição de recém formadas e desempregadas... Parte I – O ócio criativo, em meio as piadinhas sarcásticas com a nossa própria condição, arrumamos o quarto, jogamos papéis fora, alguns desses papéis guardamos pode ser que uma daquelas xérox sirvam pra estudar pra algum concurso... arrumamos tantas e tantas gavetas e já nem tem mais o que arrumar. Parte II – a doce ilusão,é melhor acreditar que vamos arranjar logo um emprego ou que vamos passar num concurso, ai fazemos planos de estudar horas intermináveis, aproveitar que tem tempo e trabalhar o corpo, perder uns quilinhos, mas não conseguimos marcar os dias de estudo, e nem os dias de malhação. Parte III – desespero, atual estágio que nos encontramos, ai é só dormir pra esquecer ou fazer algum programa barato. Pois bem, está em casa na maior parte do tempo significa encher o saco de outros parentes, e é claro, ter o saco que você naturalmente não tem, enchido por eles também. Por essas e outras a paciência que já não é muito longa, vai ficando cada vez mais curta, a vontade que eu tenho é de apenas responder... “diz que eu fui por aí”...

O Modelo de Kübler-Ross propõe uma descrição de cinco estágios discretos pelo qual as pessoas passam ao lidar com a PERDA, o LUTO e a TRAGÉDIA!

Os estágios são:

1-Negação e Isolamento ("NÃAAO! Não pode ser! A graduação acabou e eu ainda estou desempregadaaaa! Tenho vergonha de mim!!!")

2-Cólera (" Arrrrrrrrrrrrrrrg!!!!!!!!!!! Quero quebrar esse maldito desse onibus e fazer o cobrador comer meu passe-fácil...!!!!")

3-Negociação (Oh God! Sei que Marx avisou pra não acreditar em voce, mas assim...considerando a conjuntura neam?!")

4-Depressão (O CFCH que me espere!!!")

5-Aceitação (Oh Yeah! Tudo bem! Nem é tão ruim assim...! Sem emprego, consequentemente sem dinheiro, sem saídas, sem entorpecer, sem noites acordada, logo, vida saudável! Olha aí, adorei!")

Diz Que Fui Por Aí
Composição: (Zé Kéti e H. Rocha)
Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando o violão embaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
Se houver motivo
É mais um samba que eu faço
Se quiserem saber se volto
Diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim
Tenho um violão para me acompanhar
Tenho muitos amigos, eu sou popular
Tenho a madrugada como companheira
A saudade me dói, o meu peito me rói
Eu estou na cidade, eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nele...

domingo, 2 de março de 2008

A maldição de Mary Richmond

“Não sou freira nem sou puta”
Rita Lee

Não é de se estranhar que o curso de Serviço Social seja hegemonicamente feminino. No entanto tal fato não é natural, não é por acaso, a relação entre o Serviço Social e o gênero é cultural. Um breve olhar sobre o processo histórico do qual o Serviço Social passou de trabalho assistencialista à profissão reconhecida, nos permite observar que este esteve durante muito tempo ligado à igreja, e as damas de caridade, seu viés era o de cuidar dos mais necessitados. Ainda hoje a função do cuidar do Serviço Social povoa simbolicamente a imaginação das pessoas.
Quanto a nós mulheres, historicamente o lugar que nos foi dado na sociedade foi o âmbito privado, o ambiente doméstico. Dessa forma nosso papel na família patriarcal é o de dona de casa, cuidadora dos filhos e dos afazeres domésticos, enquanto que o homem é o provedor. Nesta ótica nossa condição é de tutelada, propriedade daquele que nos sustenta. Esse papel atribuído à mulher lhe cobra “virtudes” de obediência, resignação, delicadeza, e por ai vai. Nos ensinam a ser mulher, como afirma Simone de Beauvoir, na sua célebre obra, O Segundo Sexo, “não nascemos mulheres, nos tornamos mulheres”.
Durante séculos nós mulheres, estivemos a margem da produção científica, da vida política, das instâncias decisórias da sociedade. Inicialmente por muita pressão de mulheres pioneiras, e apoio de homens progressistas as portas começaram a ser abertas, e mais tarde através da organização dos movimentos feministas e de mulheres, o relativo avanço que vivenciamos hoje foi se desenhando. Nos deixavam estudar, mas desde que mantivéssemos viva nossa “mística feminina”, resguardando nossas virtudes, aos poucos éramos professoras, enfermeiras, aquelas que educavam, que cuidavam.
Podíamos estudar, desde que após concluir os estudos casássemos. Uma boa ilustração é o filme O sorriso de Monalisa, entre as várias disciplinas que as moças de um colégio feminino aprendiam, se incluíam boas maneiras, disciplinando-as para cuidar de um lar e como se comportar diante do seu marido, para sempre agradá-lo. Os arquétipos de mulheres na metade do século XX eram: dona de casa, freira e prostituta.
Por isso não é de se estranhar também, a postura de Mary Richmond, nome de grande expressão do Serviço Social americano, em decidir não se casar, porém sua postura em nada significa uma atitude de emancipação feminina, ela propunha que toda assistente social não deveria casar, deveria sim dedicar sua vida ao social, uma espécie de pacto, muito similar à postura das freiras. Porém, pior do que a proposta de Mary Richmond é uma suposta lenda que paira o curso de Serviço Social, uma brincadeira com forte teor machista: A MALDIÇÃO DE MARY RICHMOND. Que diz: aquela que não casar até a formatura, não casará mais.
Respeito às putas, que fazem do seu corpo a matéria de seu sustento. Respeito às freiras que escolheram casar com a igreja. Respeito àquelas mulheres que casam, criam seus filhos, e admiro entre elas, as que tentam dar uma educação transformadora a seus filhos. Às que nem por estarem casadas deixam de trabalhar para compor o sustento da casa, e ainda mais àquelas que sozinhas assumem o papel de chefe do lar contrariando postulados científicos e religiosos que nos taxaram de incapazes. Respeito às mulheres que optaram por viver sem marido, ou por não ter filhos. E àquelas que optaram por viver com outras mulheres. Hoje podemos minimamente escolher, isso é um fato, é uma conquista dos movimentos feministas.
Por isso, que tanta revolta me causa ao ouvir, ainda que em tom de brincadeira, a Maldição de Mary Richmond. Pois soa, como se este padrão de vida burguês, de mulher exclusiva dona de casa, ou aquela que tem dupla jornada por que o marido se recusa a dividir com ela a responsabilidade da educação dos filhos e das tarefas domésticas, é o idealizado pelas mulheres do Serviço Social.
Nós mulheres devemos nos organizar contra a opressão e exploração que sofremos pelo simples fato de sermos mulheres, dessa forma convoco as companheiras para integrarem o núcleo de mulheres de Serviço Social da UFPE. Quanto aos companheiros de luta, todo apoio é bem vindo. Mulheres e homens devem estar unidos para uma mudança cultural na sociedade, é impossível tentarmos construir uma sociedade justa, sem exploração, se esta continuar mantenedora de relações desiguais, ou seja, opressora. Encerro este texto com uma citação de Luzilá Gonçalves, professora da UFPE: A mulher liberta de suas cadeias e de suas alienações libertará também o homem.

Recife, 31 de dezembro de 2007.
Tatiane Melo